segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Texto CT 1

O João corria... Dois policias seguiam-no numa desenfreada perseguição.

Cansaço.

As pernas começavam a não responder. O esforço despendido nos últimos dias estava, finalmente, a apanhá-lo. Teria valido a pena? Talvez. Mas tinha que agir rapidamente, ou não viveria para meditar sobre a história. Acelerando o passo da corrida virou à esquerda, para uma ruela tenebrosamente estreita e escura. Os muros altos que o cercavam ajudavam a transportar o som, ecos distantes de gente a movimentar-se na sua direcção. Já não eram só dois.

O pânico apoderou-se dele. Olhando à sua volta viu um dos muros tricotado por uma rede de canos, cicatrizes disformes de épocas passadas, restos de uma civilização que dava mais atenção ao funcional do que à estética.

Utilizando o pouco que lhe restava das suas forças, começou trepar como se de uma escada se tratasse, o metal velho e enferrujado a ameaçar ruir perante o seu peso, chiando suavemente a cada passo dado.

Passou para o outro lado. O contraste atingiu-o como uma flecha! Encontrava-se num jardim relvado e bem cuidado. Ao fundo, uma casa imaculadamente branca, minimalista, forrada a janelas espelhadas, reflectia as preguiçosas cadeiras rochas e brancas que perfaziam a área de jantar.

Começou a ouvir um chilrear suave. Alguém trepava os canos. Tinham-no descoberto.

Caos. Iniciou-se com um tiritar suave seguido de um roncar monotónico. A racha no muro, onde do outro lado se encontravam o polícia, apareceu vinda do nada. Seguiu-se um estrondo ribombante. Sem parar para ver, correu em direcção à piscina, desviando-se das espreguiçadeiras e do pára-sol roxo e tropeçando no que supôs ser uma lâmpada. Não interessava. Rastejou para dentro das águas cristalinas cor-de-céu e encostou a cabeça ao rebordo, esperando.

O Silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Os minutos pareciam horas. Horas pareciam dias. Não sabendo ao certo quanto tempo passou dentro de água, ainda hoje João treme ao pensar nos momentos que se seguiram à saída da água. Na altura apenas reparou no sangue que escorria relutantemente pela calçada, mas veio a saber pelos jornais que cinco agentes tinham ficado soterrados por debaixo da derrocada.

Não tinha valido a pena. Todo o dinheiro do mundo não pode pagar a vida de um ser humano. Para ele o assalto tinha sido motivado por bem mais do que a ganância: o desafio.

E agora eles estavam mortos.

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