segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Texto CT 2

Era uma tarde quente e entediante de final de Verão. O suor escorria pela testa de Isabel enquanto tentava, desesperadamente, por um vídeo preparado para a aula funcionar.
Mulher morena, de meia idade, Isabel acreditava que a imagem era um elemento essencial para um professor. Todos dias seguia o mesmo ritual, cabelo longo, sedoso e brilhante cuidadosamente arranjado num risco ao lado a envolver duas argolas discretas mas elegantes que combinavam com o já habitual colar dourado, uma herança de alguém próximo.
Portanto, o suor não estava a ajudar. No meio do burburinho ensurdecedor - murmurado mas forte - trabalhava incessantemente para conseguir emendar o seu erro.  Sim, o erro tinha sido dela, - se os seus vastos anos de experiência lhe tinham ensinado alguma coisa, era que a preparação e o teste do material eram um passo essencial de qualquer apresentação.
Desespero. A turma ameaçava um “coup d’etat”, as mentes dos alunos a começar a divagar pelo interminável mundo do ócio, consumindo o precioso tempo que devia estar a ser usado para a sua formação.
Isabel levantou a cabeça. Com gestos nervosos mas precisos, olhar brilhante e determinado encontrou, num momento de rara inspiração, a solução. E agiu.
Ligou a apresentação que tinha trazido e começou a falar. A pressão ameaçava tomar-lhe conta da voz, mas tal não aconteceu e com firmeza e convicção apresentou a sua ideia. O filme seria esta aula, os actores ela e os alunos e o guião... O que se tinha passado. De imediato o anfiteatro parou. Com olhares curiosos mas culpados, os seus movimentos eram seguidos de forma tímida, como que um grupo de crianças apanhadas com a mão nas bolachas.
Ela tinha ganho, novamente, a atenção da plateia. Com este sucesso moderado, agarrou a explicação sobre o texto narrativo como se tal dependesse para sobreviver. Esteve quase a afogar-se, mas a bóia de salvação estava mesmo ali a escassos metros...
E o resto é história.  Ao chegar a casa, à noite, enquanto olhava distraidamente para a televisão, com um copo de vinho do porto velho e um bom livro na mão, não conseguia deixar de pensar. Se tivesse, realmente, mostrado o vídeo, teria a aula corrido melhor? Teriam os alunos mostrado o mesmo nível de interesse na elaboração do texto?
Nunca saberá. Mas não interessa. Amanhã é um novo dia e o ritual começa novamente, com intermináveis variações e outras tantas soluções. A vida não acaba.

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